sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Qual a importância das Relações amorosas na nossa vida?


1 - Qual o significado e a importância dos relacionamentos na nossa vida? Pode dizer-se que são a chave de tudo ou que tudo gira à sua volta?

O Ser humano é um ser, por natureza, social e relacional. Só existimos em relação. Esta necessidade  e caracteristica acompanha-nos desde o nascimento até à morte. Amar e ser amado é algo fundamental ao ser humano e ao seu desenvolvimento. O que acontece é que à medida que crescemos os nossos objectos de relação vão-se modificando. Assim, em crianças os pais representam tudo para nós, na adolescência os amigos assumem o centro das nossas vidas, e à medida que nos desenvolvemos sexualmente, a nossa atenção e o nosso investimento relacional, passa a ser na procura de uma relação amorosa íntima.

E sim, poderemos dizer, que naturalmente, os relacionamentos são algo fundamental na vida de todos nós.

A nossa herança sócio-cultural transformou as possibilidades de ser-se casal ao longo do tempo, sendo que hoje é quase inconcebível sê-lo sem um determinado grau  de vínculo amoroso, atracção sexual e apoio mútuo.


2 - Existem padrões nos nossos relacionamentos? É verdade que tendemos a repetir o tipo de relacionamentos que temos, em que mudam as caras mas o padrão é o mesmo? Porquê?

Sim, todos nós temos padrões de relacionamento, e esses padrões têm a ver com as nossas experiências relacionais que tivemos ao longo da vida, não só amorosas, mas também com a forma como vimos os nossos pais relacionarem-se, com a forma como nos relacionámos com os nossos pais, com os nossos amigos, irmãos, entre outros.

Crescer e viver em relações e ambientes hostis, adversos ou harmoniosos e prazerosos, são escolas relacionais completamente distintas, e fazem de nós seres relacionais muito distintos.
Assim, à medida que crescemos, vão mudando os protagonistas das nossas relações mas o nosso modo de nos relacionarmos, vai sendo sempre de alguma forma condicionado por aquilo que vimos ou vivemos. Porém, não nos podemos esquecer que a nossa relação também depende da forma como outro nos trata, e em função disso podemos dar o melhor ou o menos bom de nós.

3 - Quais os ingredientes ou regras fundamentais para o sucesso de um relacionamento? O que dita o sucesso dos diferentes tipos de relacionamentos que construímos ao longo da vida (profissional, familiar, amoroso, de amizade,…)?

Diria que o Amor, a confiança e o respeito, são os pilares básicos que sustentam uma relação amorosa.
Numa relação íntima saudável, o compromisso baseia-se num mútuo interesse pelo outro, em que se enaltece o verdadeiro “eu” , não se anula de modo nenhum, a individualidade. Ter diferenças de opinião, de perspectivas é óptimo. É isso que enriquece a relação. A comunicação, falar abertamente sobre essas diferenças ajuda a conquistar o respeito do outro
Porém, conseguir alcançar isto, não é de todo simples.  O sucesso relacional exige segurança, auto-confiança e uma grande maturidade emocional individual, quer na vida amorosa, quer na vida profissional. Só podemos amar alguém, se nos amarmos e respeitarmos, em primeiro lugar a nós próprios. Quando isto não acontece, facilmente nos anulamos e perdemos na relação com o outro, e estamos a meio caminho de estabelecer relações pouco saudáveis.

4 - Porque é que os relacionamentos fracassam ou não dão certo? Quais são as principais dificuldades ou erros que existem nos relacionamentos?

O amor e a intimidade desafiam os nossos maiores medos em relação ao que somos e ao que devemos ser, bem como ao que os outros são. Amando e desenvolvendo intimidade corremos riscos.  Em algumas relações, a liberdade para descobrir e deixar-se descobrir pelo outro fica condicionada pela vontade, pelo medo, pelas inseguranças, pela habilidade ou mesmo permissão do parceiro para tal. Como já referido, existem muitas vezes obediência a regras “não escritas” oriundas da família de origem, que pautam o ritmo e a profundidade dos relacionamentos de proximidade.  Regras como devem ser resolvidos os problemas, como se expressam as emoções, que expectativas se devem ter dos outros, acabam por estar presentes sendo que são muitas vezes desajustadas a esta nova relação.
Assim, poderíamos dizer, que as inseguranças individuais, as dificuldades de comunicação, a  procura dum parceiro (a) igual a si , ou que preencha todos os quesitos idealizados, é algo irreal, provocando desilusão,  desencanto,  e sem comunicação o silêncio acaba por corroer a relação.

5 - Como podemos fortalecer as nossas relações e torná-las mais saudáveis e duradouras?

Sendo verdadeiros e plenos na relação. Sem medo de sermos aquilo que somos, nem medo de sermos rejeitados. Falando abertamente sobre o que pensamos e o que nos preocupa. A honestidade, a espontaneidade, a vulnerabilidade, a confiança e a aceitação são ingredientes essenciais para o sucesso da relação. Podem suscitar por vezes mágoas e vulnerabilidades, mas esse é o caminho para a maturidade e para a intimidade conjugal,pois permitem a reciprocidade, a alegria e a ternura.

6 - Todas as pessoas possuem a capacidade de iniciar, construir e manter relacionamentos longos e saudáveis ou só algumas é que o conseguem fazer?

Manter uma relação diria que é mesmo uma arte, e uns têm mais competências relacionais do que outros. De referir porém, que não há relações perfeitas e que mesmo as relações saudáveis têm os seus momentos de crise.

7 - O que devem fazer aqueles que não têm grandes capacidades de relacionamento? A que princípios ou estratégias é que podem recorrer para se tornarem mais hábeis no trato com as outras pessoas?

As competências relacionais é algo que podemos desenvolver, em qualquer fase da nossa vida, com ajuda especializada. A Psicologia, e a Terapia de casal, são uma ferramenta muito útil, no desenvolvimento destas competências.

8 – Qual a melhor forma de lidar com o fim de um relacionamento?

A melhor forma, é enfrentar o fim com realismo e dignidade, e aceitá-lo. Uma relação só é possível quando ambos querem e a desejam. Não se consegue construir nem reparar uma relação quando só um quer permanecer nela.

É importante pensarmos que quando uma relação termina, o que está em causa, não é o valor individual de cada uma das partes, não é uma guerra em que há vencedores e vencidos. É simplesmente um desencontro. È importante não dramatizar, não arrastar   a dor. È importante ter coragem para por um ponto final e não se deixar arrastar no sofrimento. Uma relação só faz sentido quando nos dá mais coisas positivas do que negativas. Quando a balança entra em défice é preciso falar sobre o que esta a acontecer, e avaliar se vale a pena continuar ou não. 

Nestes casos a Terapia de Casal é extremamente útil e eficaz e ajuda o casal a analisar com alguma serenidade o que está a acontecer e a ponderar os vários cenários possíveis.

Entrevista cedida por Maria de Jesus Candeias ao  portal de saúde  MSN Saúde & Bem-Estar, Setembro de 2012.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Hiperactivo ou Irrequieto?

Não raras vezes estes dois conceitos são confundidos e num crescente alucinante crianças irrequietas são medicadas, facilitando sem, dúvida, a tarefa a pais, professores e educadores
mas compromento muitas vezes o desenvolvimento saudável destas crianças. Tudo em prol do Bom Comportamentoe da Educação, claro!
A Irrequietude Motora designa uma actividade marcada, com uma quantidade excessiva de movimentos, sem ter uma implicação de patologia;
A Hiperactividade, aplica-se a diversos tipos de comportamento mal organizado, onde domina uma combinação de irrequietude e desatenção, inadequada para a idade, com maior intensidade e gravidade dos sintomas.
Como defende João dos Santos, a irrequietude seria uma forma de reacção contra a ansiedade, e surge, muitas vezes de um fundo de depressão.
A criança, incapaz de pensar o sofrimento, utiliza o comportamento como forma de descarga. Age em vez de pensar.
O sintoma psicomotor inicial seria o sinal de uma tentativa de adaptação ao que exigem dela, um pedido de atenção ao seu sofrimento.
A instabilidade tem sempre a ver com uma espécie de fuga para a frente. Há qualquer coisa que leva a criança a não poder estar quieta, calada, silenciosa, a evitar pensar nos fantasmas mais ligados à realidade anterior.
A instabilidade seria, de algum modo, a procura da “estabilidade” de uma idade anterior, “ e, portanto, uma tentativa de “cura” da ansiedade a que conduz a insegurança”.(João dos Santos, 2002)
De acordo com a escola Francesa, a problemática comum mais profunda situar-se-ia, numa carência no plano das interiorizações, e numa fragilidade
no plano das identificações sexuais ( Salgueiro, 2002)
Malarrive e Bourgeois( 1976, cit. por Salgueiro, 2002), encontraram nas crianças hiperactivas distorções precoces na relação mãe-bebé.
A instabilidade remete para uma relação precoce frágil em que a criança não se pôde estruturar psiquicamente, construindo um “self” frágil com “objectos internos” frágeis. (Berger, 2001; Salgueiro, 2002).
São as marcas desse vivido precoce que perseguem a criança no seu interior, não lhe permitindo qualquer descanso (segurança).
A terapêutica essencial a instituir nas crianças irrequietas deverá consistir numa perspectiva sistémica, ou seja, em todas os sistemas em que a criança se encontra inserida (família, escola).
A intervenção deve incidir sobretudo na família e escola, que deverão garantir à criança estabilidade e segurança.
Com a família, importa sobretudo modular a relação pais-filhos, tornando-a menos inquieta, mais organizadora e afectivamente mais rica e contentora.
A escola deverá ajudar a criança a pensar melhor, criando situações de aprendizagem serenas e interessantes.
O tratamento/ acompanhamento destas crianças deve ser regular, contínuo e a longo prazo.


O tratamento farmacológico ?
A Irrequietude não necessita de ser medicada, a Hiperactividade deverá ser avaliada com cuidado e só após a decisão, devendo apenas ser admnistrada em casos graves.
De acordo com Pedro Strecht assistimos, hoje em dia, a um aumento de crianças desnecessariamente medicadas.
Mais medicadas, não, necessariamente, melhor tratadas, porque ficará por perceber é que a hiperactividade e défice de atenção são meros sinais e sintomas.
Corre-se o risco de tratar sintomas ou doenças e esquecer crianças ou doentes.
Como refere Strecht , a principal tarefa perante uma criança hiperactiva é sempre compreender a origem, o porquê, os significados latentes, desses mesmos sintomas.
Medicar sem compreender é como pôr a chupeta a um bebé sem perceber porque chora.
Não é melhor ver porque chora? Se é fome ou cólicas intestinais?

Voltando à nossa questão: A prescrição da medicação deve ser bastante moderada, devido aos riscos que lhes estão associados .
Taylor ( 1986, cit. por Salgueiro, 2002) num estudo que realizou, com crianças hiperactivas observou que os psicofármacos podem ter efeitos secundários importantes em certas crianças, tais como:
Atraso no crescimento e perda de apetite (mais frequentes) Crises convulsivas, taquicardia, hipertensão, agravamento de tiques, estados disfóricos (menos frequentes).
Desta forma, e como defende Berger (2001), a medicação pode ser prescrita de forma bem moderada, supervisionada regularmente, nas seguintes condições:
Quando a criança corre risco de exclusão escolar ou familiar em virtude do seu comportamento.
Quando existe um desafio cognitivo imediato, com risco de retenção para a criança, ou quando esta não consegue aprender devido à falta de atenção.
Porém, sempre, e em simultâneo, a criança deve seguir um tratamento psicoterapêutico.

“Por detrás do que se vê, existe qualquer coisa de mais profundo, menos fácil, um lado lunar, mas infinitamente mais bonito e poético do que a própria vida afinal.
Esquecê-lo é ignorar. Descobri-lo é dar.
Como quem entende os silêncios do que não é dito.
Como quem sabe o que se estrutura para além de uma fachada.
Fala através de ti, com o pedaço de criança que ainda tiveres vivo, e verás o que elas te dizem. Também aí as crianças só falam do que estivermos preparados para ouvir.
Talvez por isto se vejam cada vez mais crianças a quem é colocado o rótulo de hiperactividade com défice de atenção
(Strecht, 2005)

Luto, porque é necessário dar um sentido à perda.


A palavra luto quer dizer “dor” causada pela morte de alguém.
“Fazer o seu luto” quer dizer literalmente “passar através da sua dor”.
“A resolução do luto” é o fenómeno que corresponde à nossa capacidade de “reparação da ferida” que a perda de alguém ou algo causa em nós…corresponde à transformação de vivências em memórias.
Porque nascemos fruto de relações, mais ou menos intensas, mais ou menos afectuosas, somos por natureza um ser de e para a relação…porque as emoções são o sustento das interacções e da relação, o homem é por consequência um ser que cria ligações/laços com as pessoas e as coisas. Sem ligações, sem afectividade, a vida não seria possível. É por isso que nós criamos com os seres queridos relações que são laços psicológicos e espirituais. Esses laços são de intensidade variável de acordo com o tipo de investimento afectivo em relação à outra pessoa.
O luto é assim um acontecimento normal e inevitável na vida de um indivíduo, e não uma doença.
Contudo, a negação do sofrimento e da morte na nossa sociedade impedem o desenrolar normal da resolução do luto. A dissimulação e o recalcamento aos quais são impelidas as pessoas em luto são factores muito importantes de “stress” e até mesmo de doença.
A vida é uma série ininterrupta de ligações e de separações, de mortes e de nascimentos. É preciso estar sempre preparado para morrer para uma situação e nascer para outra. É este o preço da vida. O luto faz, por isso, parte da vida. Poderemos mesmo dizer que é um elemento fundador da vida.
No entanto, e apesar de o luto ser um trabalho individual, toda a família e comunidade devem participar neste processo de “resolução do luto”, não omitindo o facto, nem fazendo de “conta que nada aconteceu, como sendo um tabu”, mas auxiliando as pessoas enlutadas a re(construir) um modelo de relação diferente…em que o físico se transforma em memórias! A vivência de um luto, faz-nos sempre pensar nas nossas próprias perdas e isso pode de algum modo causar-nos dor, sofrimento e consequentemente, afastar-nos de situações que o evoquem.
A negação social da morte e do sofrimento, tem repercussões imensas sobre as pessoas e comunidades em situação de perda. As maioria das pessoas desconhecem a importância de “ fazerem os seus lutos” e de consciente ou inconscientemente “percorrerem” as diferentes fases que este doloroso mas necessário percurso requer, para que se possa retomar a uma vida normal, porém transformada.
Se por qualquer razão, esta passagem pelas diferentes fases não se verificar, o individuo em luto fica “ agarrado” a uma relação que já não existe e não consegue construir uma vida verdadeira e diferente.
As causas destes insucessos são múltiplas:
falta dos rituais sociais que favorecem o decorrer do luto;
insuficiência de informações necessárias sobre a maneira da fazer o seu luto;
incapacidade de se exprimir emocionalmente, etc.
O luto é assim um tempo obrigatório entre duas fases da vida: aquela que
deixámos porque nos separámos do ente querido e aquela que virá depois
de o termos deixado partir e que será completamente diferente da precedente
Choque, corresponde ao momento imediato ao conhecimento do óbito e caracteriza-se por um entorpecimento da emotividade e das faculdades de percepção. No momento da notícia a pessoa fica anestesiada, e não é capaz de assimilar toda a reacção emocional da perda. O mundo abate-se à sua volta e a intensidade desta sensação é tanto maior quanto mais súbita e imprevisível for a morte.
Há pessoas que têm tendência a manter uma vida interior rica de ilusões em relação ao ser que partiu. Desenvolvem por vezes alucinações que se destinam a manter a sua presença.As resistências são maiores se a pessoa não o pôde ver, falar-lhe ou tocar-lhe. Alguns lutos não se conseguem fazer, simplesmente porque não se viu o corpo do defunto.
A negação tem por fim retardar a plena consciência da realidade do drama. Esta consciência, se for muito forte, pode levar a que o indivíduo perca o seu equilíbrio psíquico.A primeira forma de negação é de natureza cognitiva: nega-se a perda, a pessoa tenta esquecê-la ou não pensar nela.A segunda forma é de natureza emotiva: a expressão emotiva fica bloqueada, quer pela falta de meios para exprimir as suas emoções, quer pelo medo de se deixar afogar nelas.

A negação pode apresentar-se de várias formas: sobre actividade, substituição de quem partiu por um outro alguém, procura de um culpado, apresentação do ser perdido como sendo o melhor, recurso a drogas, perturbações psicossomáticas, etc.

Quando as defesas cedem e a realidade da perda se impõe, emerge todo um conjunto de emoções: ansiedade, impotência, tristeza, cólera, culpabilidade, um sentimento de libertação, as lamentações da plena consciência da perda.

“ Dar um sentido à perda…”

É preciso aceitá-lo, deixá-lo evoluir, vivê-lo: descobrir a chave. O período de reflexão necessário para este trabalho pede à pessoa que tenha confiança na sua sabedoria interior. O processo de luto e a sua resolução constituem um momento de crescimento e maturação pessoal e interior…em que nos deparamos com os nossos medos e angústias mais terrificas…por isso o confronto com o sofrimento dá-nos a possibilidade de elaborarmos os nossos receios e (re)avaliarmos o que queremos e fazemos com a nossa vida.
Um luto é considerado normal, quando a pessoa experiência sentimentos de tristeza, enfado, culpa, ansiedade, solidão, fadiga, impotência, choque, emancipação, alivio entre outras, durante um tempo suficiente para si, que lhe permite (r)elaborar a perda, e nesse sentido percorrer as diferentes fases do luto até conseguir finalmente atribuir um sentido à perda e assimilar as memórias sem dor nem sofrimento.
O Luto é considerado patológico ou complicado, quando existe uma relação contínua entre as reacções normais e anormais, isto é, não existe uma diferenciação e para além disso, o luto patológico varia em intensidade e duração face ao luto normal, assim como na presença ou ausência de uma conduta específica
A diversidade nos diferentes tipos de luto, remete-nos para a diversidade de reacções e de vivências do luto que cada pessoa apresenta. Nestas situações, mais do que em qualquer outra, cada pessoa deve ser olhada individualmente, com as suas características e necessidades, logo, devemos evitar reduzir o sofrimento dos outros e o nosso também ao que é “ normal e trivial”. Cada pessoa sente e vivências as perdas e os acontecimentos da vida de forma única e singular
O Acompanhamento Psicológico possibilita ajuda na elaboração do luto normal e patológico.
O melhor momento é uma semana depois, porque nessa altura todo o processo que envolve a cerimónia fúnebre e aspectos burocráticos estão tratados e a pessoa pode finalmente, parar e pensar no seu sofrimento e, vivenciar sem receios e sem medos a sua dor!
Muitas vezes, pelo ritmo de vida e por medo de se tornar cansativo para a restante família, a pessoa em luto acaba por esconder /camuflar o seu sofrimento, podendo esta situação conduzir a um luto patológico ou aparecendo este sofrimento sobre a forma de somatizações.

Não deixe que a dor a destrua!
Existe alguém que pode ajudá-lo, acredite!

Anorexia Nervosa : Ideal de Beleza?

Cada vez mais as sociedades ocidentais e industrializadas, vivem e cultivam a imagem corporal dos seus cidadãos, renegando para segundo plano as suas reais competências e capacidades. A beleza, o corpo ideal e esbelto e a elegância dominam a actualidade e são considerados elementos essenciais de bem estar-fisico e psicológico, abrindo portas para a aceitação e integração nos diferentes grupos a que pertencemos.
Se há partida, tal facto não acarreta nenhum inconveniente, uma análise mais atenta revela que a influência dos media e de outras campanhas a favor do “corpo ideal” para o “bem-estar ideal”, junto de adolescentes e jovens adultos; a pressão grupal e a necessidade de aceitação contribuem para um sofrimento avassalador incomportável para ser suportado apenas mentalmente, levando a que se instalem distúrbios do comportamento alimentar, nomeadamente a anorexia nervosa (AN).
A anorexia nervosa pode ser definida, então, como uma doença do foro psíquico que afecta actualmente cada vez mais jovens entre os 10-20anos, nomeadamente raparigas, e que se caracteriza por uma limitação e/ou rejeição aos alimentos, acompanhada por uma obsessão pela Magreza e por um medo mórbido de engordar associados a um profundo sentimento de mal estar interno.
Estas jovens têm um desejo contínuo de obter uma silhueta "perfeita" numa tentativa de obter um "corpo de sonho". Para tal fazem regimes de emagrecimento por vezes desconhecendo as possíveis consequências.
Nalguns casos, o problema é tão grave que a adolescente deixa de ter a percepção da sua própria silhueta. É uma tortura, porque extremamente magras, continuam a ver-se gordas.
Podemos falar de três tipos de Anorexia Nervosa: A Anorexia Nervosa Restritiva caracterizada por grande perda de peso e está relacionado com dietas, jejuns ou exercício físico exagerado, no entanto, o paciente, não se envolve regularmente num comportamento de purgação ou de comer compulsivamente; A Anorexia Nervosa com ingestão Compulsiva caracteriza-se pela indução de vómitos, o uso de laxantes, diuréticos e inibidores de apetite, jejum e exercício físico intenso, que além de complicarem o quadro clínico, e que são um mau Prognóstico.
Por último, a Anorexia Nervosa do tipo compulsivo periódico/purgativo que reúne características de ambos os tipos anteriormente citados.
O começo da doença é gradual, muitas vezes, a família nem se apercebe dos esforços iniciais do indivíduo para perder peso. Isto porque, a dieta pode ser justificada por motivos de excesso de peso ou, pelo contrário, feita às escondidas num jovem de peso normal.
Factores externos podem adquirir também um papel importante na AN: mudança de escola, conflitos graves entre os pais, obesidade criticada, ameaças ao equilíbrio familiar pelos primeiros passos da autonomia dos jovens.
É importante que os familiares compreendam que a recusa alimentar não é teimosia. Além do paciente apresentar uma distorção da imagem corporal, verifica-se também um controlo da fome e um horror de engordar. As recriminações constantes dos pais, embora sejam compreensíveis, não ajudam neste tipo de casos. A fase de precipitação da AN está relacionada com um sentimento de profundo de mal-estar e inadequação, ponto de partida para uma série de comportamentos desajustados (desde dieta sem cessar até aos vómitos frequentes).
A falta de alimento dá origem, progressivamente, a um quadro de debilidade, física e mental, com queixas e problemas em vários sistemas e órgãos do organismo. Socialmente, estas jovens, tornam-se cada vez mais isolados e inadaptadas.
A osteoporose é a consequência mais grave, a longo prazo, desta doença. Sabe-se que a AN pode também originar infertilidade e um aumento da frequência abortos espontâneos. A afectividade e a sexualidade são profundamente afectadas pela AN crónica. As doenças do comportamento alimentar podem estar, inclusive, associadas a outras perturbações psiquiátricas, como é o caso da depressão.
É pois fundamental, um diagnóstico nesta faixa etária, para não comprometer o desenvolvimento físico e psíquico destas jovens no futuro.
A doença pode ser mantida durante bastante tempo ou tornar-se uma situação crónica, de longa evolução e prognóstico reservado. É essencial evitar que o processo não se torne crónico, assim como é de extrema relevância instituir a terapêutica o mais cedo possível. Na maioria dos casos, a terapêutica, faz-se mediante uma consulta a Psicólogo ou Psiquiatra, recorrendo a uma psicoterapia individual.

A Criança e a Importância do Brincar




Para qualquer criança, brincar é tão essencial ao seu desenvolvimento como a alimentação e o carinho. Enquanto brinca, a criança organiza a sua forma de pensar e sentir, mostra como vê a realidade e aprende a interagir com os outros e vive as situações de uma forma espontânea e alegre.
Brincar é natural na criança, facilita o seu crescimento harmonioso, desenvolve a relação com o outro, é uma forma de comunicação, ajuda a aprender a resolver conflitos e a lidar com as situações.
Cada idade tem um modo de brincar específico e é em cada uma dessas fases que a criança aprende a diferenciar a realidade da fantasia.
Aprende também a separar o seu espaço do espaço do outro e a dar novos significados à realidade que a rodeia conforme o que assimila durante as brincadeiras.
A forma como a criança brinca revela a sua personalidade e a forma como está estruturada para se relacionar com o mundo, ou seja é claramente visível nos sentimentos que as brincadeiras despertam, como por exemplo os jogos (ganhar e perder).
O brincar tem um papel fundamental no controlo da agressividade e na descoberta de novas formas de estar. Enquanto constroem batalhas com soldados, descarregam a fúria de alguma frustração, e aprendem a controla-la.
Assim o brincar ajuda a descomprimir o dia a dia onde a criança tem que aprender a integrar-se nos diferentes grupos e situações. A sua vida é orientada por regras de comportamento, e é frequentemente sujeita a repreensões e chamadas de atenção.
Assim os saltos e tropelias e os excessos ajudam-na a libertar tensões acumuladas e levam á exaustão – e a uma boa noite de sono.
O papel dos pais é, então, estimular a brincadeira na criança, mostrar-lhe que o jogo, o movimento, o desenho ou até a leitura, podem ser tão divertidos como um game-boy, ou a televisão.
Durante as brincadeiras e jogos a criança desenvolve aspectos importantes para o seu crescimento, tais como: desenvolvimento físico (muscular), raciocínio lógico, percepção sensorial, socialização, comunicação e criatividade.
Quando se encontra uma criança que não brinca, não convive com as outras crianças quando estão juntos, então estamos perante uma criança inibida, que não se desenvolveu ao nível da socialização e do brincar, pode acontecer por diversos motivos:
Pais demasiados proibitivos e culpabilizantes, que não estimulam a brincadeira, e que travam o processo exploratório, pais que punem a agitação motora natural na criança, pais que convivem mal com as tropelias próprias das crianças, em suma pais pouco disponíveis para brincar com os filhos.
É papel dos pais estimular o acto de brincar. Estimular o potencial da criança para que desenvolva uma série de capacidades que lhe são inatas (brincar, correr, saltar). No entanto como em tudo, o excesso de estímulos pode confundir a criança.
Resumindo: brincar estimula os reflexos perceptivos, motores, intelectuais, e sociais da criança, ajuda-a a conhecer-se a si mesma e a explorar as suas emoções. Por outro lado auxilia a criança a tomar noção do “eu” e do “outro”, e desenvolve a linguagem.
Assim, dizemos aos pais, sempre que puder brinque com o seu filho. Desenvolve a confiança da criança em si mesmo, ou seja a sua auto-estima.

O brincar não é apenas uma necessidade biológica para descarregar energia embora sirva essa função também, é mais que isso, é um encontro com as emoções e com a criatividade, é ai que a criança descobre o seu verdadeiro “eu”, como diz Winnicot.
Quando se brinca evoca-se uma relação de domínio entre a realidade psíquica e o mundo real no qual se vive, conferindo harmonia ao pensamento e ás emoções. Por isso quando se brinca organiza-se o mundo interior e abre-se espaço para a aprendizagem.
Uma criança que não brinca não está disponível para a aprendizagem, não sabe ler as emoções, não consegue dar sentido à sua realidade interna. Esse silencio no brincar inibe o pensamento que é uma forma de não perceber os afectos, e a curiosidade que separado do desejo de aprender não consegue cultivar a ideia e partir á descoberta da leitura, da escrita das ciências, da matemática etc.
A criança que não consegue brincar, não consegue representar a sua realidade, está submerso em sofrimento e angústias. Quando uma criança não brinca com outras e as agride sem parar (a agressividade também é normativa) é motivo para pedir ajuda especializada.
Por tudo isto, a todos vós, pais, incentivai as vossas crianças a brincar.

M Jesus Candeias

Psicóloga Clínica

jesuscandeias@gmail.com

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Irmãos mais velhos

( Artigo Publicado na Revista Sábado de 18/12/08).
Para se entender como é que se comportam os adolescentes, nomeadamente na sua relação com os irmãos, é necessário recuarmos um pouco e pensarmos um pouco como nos construímos enquanto pessoas.
A relação entre irmãos na adolescência, e futuramente na idade adulta, é um processo que se iniciou desde o nascimento do irmão mais novo. A forma como esta relação foi vivida e sentida, por ambos, no passado, condicionará, de certa forma, a sua relação actual.
Existem diversos factores que influenciam e determinam a relação entre irmãos, desde a mais tenra idade. Um desses factores tem a ver com as expectativas que a família tem acerca das características, competências e possibilidades de cada uma das crianças. Estas expectativas vão ser determinantes na organização da fratria, nas relações de poder entre irmãos, na função e papéis de cada um. Um outro factor, determinante na relação entre irmãos são as dinâmicas do funcionamento familiar assim como do modelo de relacionamento parental, que tende a ser reproduzido na relação entre irmãos, e aqui podemos incluir, as representações do papel do homem e da mulher em todas as suas variantes, dos valores, dos nossos padrões culturais entre outros.
A relação entre irmãos nunca é inteiramente fácil ou isenta de conflitos. É, de uma forma geral, como muitos lhe chamam, uma relação de amor-ódio, uma relação ambivalente, que, longe de ser negativa, funciona como uma mola que permite à criança crescer e “assumir-se “ de uma forma saudável dentro da fratria.
A rivalidade entre irmãos é tão velha quanto a bíblia, onde é referido o episódio em que Caim mata Abel por ciúmes.
O ciúme é um instrumento necessário para que o “primogénito” faça o luto do sentimento de “Pleno Poder”sentido graças à sua condição de “Pequeno Rei”
É através da rivalidade que a criança aprende a vida em comum, a necessidade de ter em conta o outro, de partilhar e faz a aprendizagem da competição social. É na relação com irmãos que a criança começa a aprender padrões de lealdade, prestatividade, protecção, competição, domínio, conflito, que vão ser generalizadas a todas as relações que a criança vai estabelecer ao longo de toda a sua vida.
Esta situação torna-se complicada e eventualmente patológica quando os pais não sabendo gerirem essa rivalidade (que acaba sempre por vir à tona mais cedo ou mais tarde) e tendem, não raras vezes, a proteger e favorecer um dos filhos, normalmente o mais novo, passando a exigir mais do mais velho, que muitas vezes acaba por crescer “depressa de mais”. Essa situação pode comprometer o desenvolvimento da criança e poderá levar a que a criança mais velha se sinta cada vez mais posta de lado (não quer dizer que isso seja real, mas pode ser sentido) e a sua agressividade vai sendo virada para o próprio por não lhe permitirem que a exteriorize.
Essa rivalidade recalcada, não expressa, pode assumir contornos de ódio levado ao extremo, em que irmãos mais velhos direccionam essa raiva aos mais novos, mais tarde na adolescência ou idade adulta, por não o terem manifestado mais cedo na infância, provavelmente porque os pais não lho permitiram.
Haverá outras razões, mas por detrás destas actuações está muitas vezes a repetição do modelo parental rígido e opressor, de um pai autoritário e rígido ou de um pai ausente em que o filho mais velho assume o papel de pai de família, de autoridade, e em que nesta fase de emancipação “da filha mais nova” tenta impor regras e limites, o que é muitas vezes fonte de conflito, pois a irmã, tal como é saudável e desejável, não lhe reconhece tal papel e entram em confronto, tentando autonomizar-se.

Nas famílias muito conservadoras e rígidas, com uma disciplina muito autoritária, já encontrei situações em que irmãos mais velhos, todos rapazes, com irmãs mais novas raparigas, demonstram ao fim de algumas sessões um ódio aceso pela irmã mais nova que só tiveram oportunidade de exteriorizar na adolescência aproveitando-se do estatuto de rapaz, a quem os pais dão mais liberdade. Num dos casos havia uma diferença de seis anos, e o irmão assumiu o papel paternal, decidindo onde a irmã ia e com quem, sob a égide de protecção. Na realidade o que estava presente era de facto a rivalidade e a vingança por um amor que não tinha tido. Este homem foi durante anos submetido a um autoridade paterna desmedida que o impediu de viver uma infância e adolescência normal. Quando a irmã atingiu a idade de sair apoderou-se de um papel que lhe permitiu a vingança. Muitas sessões depois foi possível exteriorizar os ciúmes que tinha da irmã, revelando que ela era uma privilegiada pois não tinha passado pelo que ele passou e que tinha muito ressentimento dela por isso.

Tentando responder à suas questões:

1. - Como costumam os irmãos mais velhos reagir a novas situações relacionadas com as irmãs mais novas como: a primeira saída à noite, o primeiro namorado, o primeiro fim-de-semana for da irmã mais nova, , ou quando tiram a carta...
Na sequência do que tenho vindo a referir, não podemos definir uma forma típica de reacção, a forma como os irmãos mais velhos reagem face a novas situações das irmãs mais novas, depende de múltiplos factores, entre os quais a personalidade, os modelos de funcionamento familiar, em que cresceu, a presença ou ausência de figura de autoridade (no caso da nossa cultura, muito associada a uma figura masculina), das representações dos papéis do homem e da mulher na família, dos valores, entre outros factores.
O que posso dizer, e que me diz a minha prática clínica é que de uma forma geral, um tipo de resposta saudável e expectável, dos irmãos mais velhos, numa primeira fase com o início de actividades de autonomia das irmãs mais novas, é revelarem alguma preocupação e até protecção, dando conselhos, evitando de alguma forma que a irmã mais nova passe por situações desagradáveis pelas quais ele próprio já passou, e aí entram muito os valores da nossa cultura, os estereótipos e preconceitos sobre a mulher, o que “fica bem” ou “fica mal” o que a irmã deve ou não fazer. Porém, numa relação saudável, esta preocupação inicial extingue-se passado pouco tempo, os irmãos seguem lado a lado, apoiam-se, tornam-se de alguma forma cúmplices, mas não se traem, nem invadem a privacidade um do outro. Existe o respeito pela individualidade de cada um.
Porém, existem outros casos, e não são assim tão raros, em que esta preocupação inicial se prolonga no tempo, de forma muito obsessiva, em que o direito à individualidade e à autonomização das irmãs mais novas são insistentemente postos em causa, com uma intrusão abusiva na vida das irmãs mais novas. E isto claramente não é uma relação desejável, nem saudável para nenhuma das partes. Os casos apresentados são disto testemunho.
Na minha prática tenho verificado que muitos dos irmãos mais velhos que cresceram em famílias muito conservadoras e rígidas, com uma disciplina muito autoritária, ou em famílias em que o pai não existe, estes jovens tendem a reagir sempre com uma “preocupação” face às primeiras manifestações de autonomia das irmãs mais novas, levando a um controle apertado dessa fase da adolescência, em que simultaneamente agem a sua raiva fraterna e assumem, no caso de pai ausente, o papel de pai de família, tentando impor regras e limites às irmãs mais novas. Nos casos do pai ausente, o papel de protector e autoridade, estende-se não raras vezes à própria mãe. Não passam de semi-adultos frustrados que precisam de exorcizar os seus fantasmas à custa de oprimirem alguém. Esta necessidade acompanhá-los-à pela vida fora, a rivalidade fraterna não fica resolvida e vão actuá-la mais tarde em colegas de trabalho (são os típicos colegas invejosos), esposas, filhos, enfim pelas diversas relações que estabelecem ao longo da vida. Também existe este tipo no feminino.

2. Como devem as raparigas reagir quando os irmãos mais velhos se tornam demasiadamente controladores?

É fundamental que estas jovens ponham um limite a esta autoridade e invasão da sua privacidade e lutem pela sua autonomia e pelo respeito da sua privacidade. Deverão fazê-lo de forma directa e assertiva. Evitar o conflito é muitas vezes uma forma de adiar a resolução do problema. O exemplo da Marta é disso testemunho.
Mas nem sempre é fácil sair deste ciclo uma vez que, muitas das vezes, tudo é feito com a conivência, e suporte, dos pais (que ficam mais descansados, por exemplo, nas saídas à noite quando o filho mais velho vai tomar conta da irmã mais nova).
Tornam-se mulheres deprimidas e passivas e pouco autónomas, aquelas que já tinham uma tendência para tal. Outras haverá que, mais resilientes, lutam e se livram da tirania fraterna, ou até paterna e conquistam a sua autonomia. A Marta é disso um bom exemplo.

Como é que uma relação entre irmãos adolescentes possessiva pode afectar a sua relação na idade adulta?

Uma relação conflituosa entre irmãos na infância e na adolescência caso não seja, desconversada, compreendida e elaborada, sê-lo-à, igualmente conflituosa na idade adulta, com a diferença de que nessa fase as rivalidades e as possessões são manifestados por mecanismos mais elaborados e requintados adequados à idade adulta.

4.3. - Como devem os pais actuar?
Em primeiro plano os pais não se deveriam nunca demitir do seu papel parental delegando funções, que são suas, nos outros filhos, geralmente no filho mais velho, porque não só estão a atribuir funções ao filho mais velho que não são suas, como estão a contribuir para a perversão dos papéis de cada um no seio da família.
È fundamental que pais e filhos, saibam e tenham bem conscientes dentro de si, os papéis e tarefas de cada um dentro da família.
Por outro lado, também é importante que os pais não interfiram muito na relação entre irmãos, porque isso implica tomar partido de um em detrimento de outro, defender um e acusar outro, o que vai em muitos casos, aumentar a rivalidade e o ciúme.
Porém, em situações extremas, como o caso de Lara, é claro que os pais devem interferir, no sentido de clarificar os papéis de cada um dentro da família, chamar a si a responsabilidade da vida de Lara, que está por hora assumida pelo seu irmão e claramente demitir o Pedro da sua função de “proteger a irmã”. Esta situação deixa transparecer alguma conivência dos pais de Lara com o seu irmão sob a égide da protecção.


4. - É importante as raparigas terem mais uma figura masculina autoritária na fase da juventude?
Não, de todo. Considero ser pernicioso para a jovem rapariga acumular modelos masculinos opressores.
Estes modelos podem, também eles, condicionar a jovem, mais tarde, na escolha de um parceiro em que muitas vezes irá optar, numa compulsão á repetição, pelo mesmo tipo de sujeitos opressores e autoritários, perpetuando um ciclo relacional doentio.

Em suma, e de encontro ao objectivo deste texto, Sim, os varões à antiga – autoritários, controladores, ciumentos, protectores, antiquados e machistas ainda existem, e na minha opinião continuarão a existir, porque a razão da sua existência está para além de questões culturais, de moda, de direitos do homem ou da mulher. São manifestações instintivas de sobrevivência face à insuficiência de modelos e vivências relacionais suficientemente satisfatórias e que estão na base da construção de personalidades imaturas que necessitam de se afirmar pela opressão e pelo poder.

Maria de Jesus Candeias

Psicóloga Clínica.
Membro da Sociedade Portuguesa de Psicoterapia Psicanalítica.
Consultório : Policlínica do Areeiro
jesuscandeias @gmail.com

PSICOTERAPIA PSICANALITICA





Psicoterapia Psicanalítica (Individual)
A psicoterapia psicanalítica - oriunda da psicanálise enquanto teoria científica, método de investigação e modelo de psicoterapia - consiste num processo de transformação, de desenvolvimento e crescimento emocional, com o aumento do autoconhecimento.
Trata-se de um novo olhar sobre si próprio, com a diferença de ser a dois, e a vantagem de permitir a descoberta de novos ângulos e perspectivas sobre as dificuldades e as suas origens, o que é condição para que a pessoa se liberte dos seus efeitos.
Numa nova relação de empatia e confiança, o paciente e o psicoterapeuta formam uma aliança, com o objectivo do reconhecimento, compreensão e resolução das dificuldades internas da pessoa que procura ajuda.
O espaço terapêutico constitui o meio que vai possibilitar à pessoa, descobrir no presente novas formas de sentir, pensar e poder fazer face, por si própria, a esses ou outros problemas com que se depare, também no seu futuro.
A psicoterapia psicanalítica é uma relação onde a procura da verdade “por detrás das muralhas” é vivida de um modo novo, seguro e privilegiado, para libertar a pessoa de um sofrimento cujas causas/significados eram antes desconhecidos.
Esta liberdade surge com o aumento do conhecimento e da capacidade para pensar sobre si próprio, descobrindo-se com ela um eu mais espontâneo, criativo e verdadeiro, que estava em nós, como a futura árvore nas sementes, apenas em estado potencial.
Tal como outras psicoterapias (como as de grupo ou as de apoio), é regida por um rigoroso código de valores éticos, de entre os quais, o respeito pela autonomia da pessoa, a sua privacidade e a confidencialidade do que nos diz.
As sessões têm a duração de 45 minutos e a frequência mínima de uma vez por semana.
A Psicoterapia Psicanalítica é a modalidade Psicoterapêutica mais eficaz na reestruturação em profundidade da personalidade.
A Psicoterapia Psicanalítica, para além de se constituir como um bom método preventivo, também é adequada ao tratamento da maioria das perturbações psicológicas.